segunda-feira, 7 de junho de 2010

Capa e Batina: a roupa do estudante

[A primeira versão deste texto, com o nome "A Capa e Batina - O Símbolo da Universidade", foi publicada no Guia do Caloiro da AEFCUP de 1994; a versão aqui reproduzida apareceu no Guia do Caloiro de 1998, mas infelizmente com um sério erro de edição: desapareceu uma linha, alterando consideravelmente o sentido de uma frase; essa linha foi aqui reposta. O texto deve ser lido tendo em atenção que se destinava essencialmente a caloiros e em particular aos da Faculdade de Ciências. Resisti à tentação de reescrever algumas partes, mesmo as que necessitariam de uns ajustes gramaticais.]


Muitas vezes, quem vê uma Capa e Batina pela primeira vez fica convencido que aquilo é uma roupa de cerimónia e de luxo, extremamente elitista. Nada mais falso. A Capa e Batina é para ser usada em (quase) qualquer situação (na praia não dá muito jeito); pode, também, ser usada como roupa de gala em certas condições (v. abaixo). Normalmente é para usar com simplicidade como uma roupa do dia-a-dia que é. A sua ideia é ser uma roupa para qualquer estudante, independentemente do poder económico (é barata considerando a qualidade e as vezes que se pode usar) e da altura do ano: se chover traça-se a capa, se fizer sol, tira-se o colete e põe-se a capa ao ombro, etc. A capa dá muito jeito para abrigar do frio da madrugada quando se volta a casa de uma noite de boémia, e eventualmente também para abrigar outras pessoas (o que pode ser bastante interessante).

É provável que ouças muitas regras sobre o uso do traje. Não podes fazer isto, tens que fazer aquilo, aqueloutro tem que ser em número ímpar, etc., etc., etc. A maior parte dessas regras são invenção de gente que não tem mais nada que fazer. Como distinguir as regras a mais das que têm fundamento? É com certeza muito difícil para um caloiro (até mesmo para a maior parte dos doutores). O que é preciso é ter bom-senso, perguntar a várias pessoas, combinar as várias respostas e tentar seguir as que pareçam ser mais tradicionais e fazer mais sentido dentro do espírito académico e praxístico. Ninguém disse que a Praxe era uma coisa imediata, embora muita gente pareça agir assim.

Mas pode-se dar já algumas ideias gerais. Fundamentalmente, o traje académico é para ser usado com sobriedade. Por exemplo, não há qualquer regra sobre tamanhos de brincos, mas já se sabe que não são admissíveis brincos que dêem demasiado nas vistas; brincos discretos não trazem problemas. Objectos de luxo em geral estão postos de parte.

Há também questões de boa educação e de bom gosto no uso do traje académico: por exemplo, é de má educação não ter a capa pelas costas em alguma ocasião um pouco mais solene, e demonstra uma certa dose de parolice ter a capa sempre muito dobradinha ao ombro, mesmo que esteja a chover ou um frio de rachar, mostrando uma quantidade de emblemas comprados na esquina, como quem diz: "sou muito académico porque tenho muitos emblemas".

Mas para quem gosta de regras, mesmo, leiam o seguinte. Nalgumas coisas há opiniões diferentes, mas em geral se seguirem estas indicações não devem ter problemas. Algumas não são regras em si mesmas, mas aplicações particulares de regras gerais, que mudam se as condições particulares mudarem. Agora, por amor de Deus (Baco), não tentem interpretar as vírgulas!


Traje Académico Masculino
:

- Capa preta;
- Batina preta de formato não eclesiástico;
- Calças pretas;
- Colete preto (dispensável em caso de muito calor);
- Gravata preta;
- Camisa branca com colarinhos normais;
- Meias pretas;
- Sapatos pretos de formato simples;
- Gorro preto (facultativo), sem borla e sem terminar em bico.

A batina deve ter um botão na parte de trás da lapela direita (e a casa correspondente na outra), para fechar em caso de luto.
Há uma versão de gala, com colarinhos de bico e laço preto em vez de gravata.


Traje Académico Feminino
:

- Capa preta;
- Casaco preto;
- Saia preta travada;
- Gravata preta;
- Camisa branca;
- Meias pretas;
- Sapatos pretos de formato simples;
- Gorro preto (facultativo), sem borla e sem terminar em bico.

Há divergências quanto à cor das meias: é, no entanto, unanimemente aceite que as orfeonistas usem meias cor de pele.
Não existe versão de gala.


Quando se usa a capa pelas costas, esta deve ter algumas dobras no colarinho. Há quem indique o número correspondente ao ano do curso em que se está, mas não se preocupem muito com isso.

A capa deve ter colchetes no colarinho, para apertar em caso de luto. Há quem diga exactamente o contrário, mas parece-nos, analisando as suas razões, que esta é a opinião mais correcta dentro do espírito tradicional.

Há quem diga que à noite a capa deve ser traçada ou, pelo menos, estar pelas costas. Numa serenata, tem absolutamente que estar traçada. Em qualquer ocasião de maior solenidade ou em que se deve mostrar respeito, a capa deve ser usada pelas costas e (embora menos importante), a batina apertada.

Na Missa, a capa põe-se pelas costas, sem dobras (mas não com os colchetes apertados).

Há muitas tradições diferentes relacionadas com os rasgões na capa. O fundamental é que se refiram a coisas muito importantes e que são feitos com os dentes (nada de tesouras!).

Pode-se ter emblemas cosidos no lado de dentro da capa, na parte inferior esquerda, desde que não se notem os pontos do lado de fora, nem os próprios emblemas quando a capa estiver traçada ou pelas costas.

Considera-se que os emblemas se devem referir a aspectos importantes da vida académica, ou muito importantes da vida pessoal. Por exemplo, um sítio onde se foi em digressão de algum organismo académico (se a ida foi mesmo académica), mas não um sítio onde se foi no Verão, de Interrail.

Os emblemas deviam ser, em princípio, isso mesmo: emblemas. Não exagerem nos "penduricalhos"! Em particular os grelos, nabiças, etc. na capa são dispensáveis.


Insígnias:


- semente: usa-se (só) nos cursos de cinco anos, durante o segundo ano. É uma fita pequena de algodão, com um nó, presa por um alfinete ao bolso superior esquerdo da batina ou casaco.

-nabiça: usa-se no segundo ano dos cursos de quatro anos, e no terceiro nos cursos de cinco. É uma fita pequena de algodão, com um laço, presa por um alfinete ao bolso superior esquerdo da batina ou casaco.

- grelo: usa-se no terceiro ano dos cursos de quatro anos e no quarto nos cursos de cinco. É uma fita de algodão que circunda a pasta onde esta dobra para fechar, terminando em laço.

- fitas: usa-se no último ano de qualquer curso. São oito fitas de seda dispostas ao redor da pasta.

(Nota: estes anos referem-se aos anos do curso e não ao número de inscrições. Há casos em que é difícil calcular o ano em que se está, mas apelamos ao bom senso).

Todas estas insígnias se colocam na Imposição de Insígnias da Queima das Fitas do ano anterior ao respectivo (se se calcular que se vai passar de ano). Obviamente só se usa insígnias (excepto cartola e bengala) estando de capa e batina.

Também se considera como insígnia a cartola e bengala, que se usa durante a Queima das Fitas em que se é finalista. Com a cartola e bengala os homens usam um laço e as raparigas uma roseta na lapela.

A cor de todas as insígnias é a da faculdade respectiva (no nosso caso azul claro).

As insígnias devem ser recolhidas à noite (normalmente exclui-se da obrigatoriedade a Queima e as Serenatas Monumentais).

Só se usam insígnias entre o início oficial do ano lectivo e a Queima das Fitas.

Não se usam insígnias fora do Porto (enfim, Grande Porto).

João Caramalho

P.S.: Antes que ouçam asneiras: os caloiros podem e devem usar traje académico e podem traçar a capa.

6 comentários:

  1. Caro João:

    100% de acordo com tudo o que foi escrito, e de modo particular com o Post Scriptum...

    Este texto devia era figurar num "Guia do Magnum" (que tão precisadinho anda, meu Deus...)

    Aquele abraço!

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  2. Gostaria que, se possível, me enviasse uma foto ou modelo da Capa e Batina para defesa de doutorado.
    Aureliano Guedes
    e-mail aurelian@ufpa.br
    epidemiologist_aureliano@hotmail.com
    Desde já agradeço.

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  3. Boa tarde. Existe uma questão frequente quanto ao traje que é: Quando é que se considera destrajado? Sem capa e batina? Sem capa e mais duas peças?

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  4. Resposta extremamente tardia, mas aqui vai; ou não, pois se calhar é uma não-resposta.

    As palavras "trajado" e (ainda mais) "destrajado" são relativamente recentes (anos 80, quando muito). São duas palavras que eu detesto e, como muitas das novidades destas últimas décadas, são convites ao disparate. Não consigo dar uma resposta prática a essa pergunta, porque os disparates à volta do "trajado"/"destrajado" variam em detalhes de instituição para instituição. Consigo dar uma resposta, mas não é prática porque se afasta necessariamente e drasticamente das opiniões oficiais dos CVs e Comissões de Praxe e outros que tais:
    Neste aspecto e em linhas gerais, eu seguiria, e tentava seguir enquanto era estudante, o Código da Praxe (de Coimbra, 1957) e até a sua má cópia portuense (o Projecto de 1983, que nesta questão não se afasta do original), distinguindo entre "estar de Capa e Batina" e "estar na Praxe". É duvidoso que "estar de Capa e Batina" chegue a ser definido; nem tem de ser definido - é usar o traje académico, sem grandes preocupações com regrazinhas, como se usava naturalmente quando... se usava naturalmente, como roupa do dia-a-dia. "Estar na Praxe" é outra história - é usar o traje académico de forma, digamos impecável, por exemplo não faltando nenhuma peça, como o colete, e não tendo peças a mais, como pins na lapela; aqui já há lugar a preocupação com regras. "Estar na Praxe" é necessário para exercer praxe (praxar), mas quem não quiser praxar nesse dia deve poder usar o traje académico sem essas preocupações.

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  5. No caso de um aluno não ter padrinho e ter chumbado no tribunal (apesar de ir várias vezes à praxe) quem lhe coloca a insignia?

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  6. Como em muitos outros casos, custa-me responder... Não reconheço aquilo a que se chama hoje praxe. Mais precisamente: não faço ideia, muito sinceramente, do que possa ser "chumbar no tribunal".
    Vou abster-me de mais comentários, dando a resposta que se aplica à praxe que eu conheci e vivi: seria bom se todas as insígnias fossem impostas pelo padrinho - aquele que baptizou; à falta desse padrinho (que pode ter abandonado a Universidade, pode ter tido um acidente de avião, pode simplesmente não ter passado de ano e por isso não ter recebido a insígnia acima), a insígnia é imposta por alguém que se escolhe para padrinho dessa insígnia (e que deve ter essa característica de estar uma insígnia à frente).
    Posso dizer que na minha vida académica tive duas madrinhas de insígnias; nenhuma delas foi a minha madrinha de baptismo.

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