quinta-feira, 3 de maio de 2012

Qvid Tvnae?
A Tuna Estudantil em Portugal

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Foi recentemente publicado o livro Quid Tunae? - A Tuna Estudantil em Portugal, de Eduardo Coelho, Jean Pierre Silva, João Paulo Sousa e Ricardo Tavares, que se apresenta como "a primeira obra sobre tunas estudantis em Portugal". Esta primazia, tanto quanto sei, é justificada: existe (pelo menos) um livro sobre tunas populares; existem alguns livros sobre tunas estudantis específicas;  mas este é o primeiro livro em Portugal que aborda o fenómeno tuna estudantil de uma forma global.
O livro está estruturado em quatro partes.
Na primeira, os autores dedicam-se a desfazer dois tipos de mito: o de que as tunas "já vêm da Idade Média" e certas etimologias fantasiosas da palavra "tuna" (pelo caminho indicam qual, dentre as várias possíveis origens desta palavra, é a que lhes parece mais credível; e fazem também algo que a mim me parece muito mais interessante e relevante - mostram a grande alteração semântica que a palavra sofreu no século XIX, de "vida folgazã" para determinado tipo de grupo musical).
A segunda parte trata da origem e desenvolvimentos das estudiantinas e tunas em Espanha (com prolongamentos na América Latina e ainda noutras paragens, por vezes surpreendentes).
A terceira parte aborda as estudantinas e tunas em Portugal (e, brevemente, antigas colónias e Brasil) do final do séc. XIX até aos anos 60/70 do séc. XX. Trata-se das tunas "à antiga", de um imenso mundo de tunas populares e académicas (incluindo inúmeras liceais) que poderá surpreender muita gente.
A última parte é sobre a "segunda vaga" de tunas estudantis em Portugal, de 1982 a 1995. De facto é só aqui, neste período que começou há trinta anos, que a maior parte dos potenciais leitores encontrará as tunas tais quais as conhece.
Os quatro autores, trazendo larga experiência da sua participação em sete(!) tunas, não caem na armadilha de achar que a prática lhes dá autoridade em matérias históricas e/ou teóricas. Na verdade, nota-se que este livro resulta de vários anos de pesquisa documental e provavelmente de inúmeras discussões.
Na primeira leitura que fiz, aprendi já muita coisa. E conto aprender mais em futuras consultas e seguindo algumas pistas aqui lançadas.
Os autores não se coibem de apresentar as suas opiniões. E devo dizer que em muitos casos discordo dessas opiniões. Mas são opiniões fundamentadas - e é agradável poder discordar de opiniões fundamentadas (o mais frequente quando se trata de tradições académicas é ver-me confrontado com disparates gratuitos, contra os quais não se pode argumentar...).
Assim, o aparecimento deste livro é de saudar por várias razões: por ser a primeira obra em Portugal sobre as tunas estudantis; por serem raros os trabalhos sobre tradições académicas; e por serem ainda mais raros os trabalhos honestos sobre tradições académicas.
Não tem defeitos? Seria impossível não ter. A mim desiludiu-me um pouco a qualidade de reprodução das fotografias (e há imagens interessantíssimas), o que talvez seja uma consequência inevitável do processo de edição ("de autor"). Naqueles assuntos em que percebo alguma coisa, notei alguns erros factuais, mas poucos e geralmente pouco relevantes (por ex.: a Mini-Queima do Porto foi em 1978 e não em 1982). Há várias secções em que a escolha que fizeram do que incluir e do que excluir é discutível (mas aqui estamos mais uma vez no campo das opiniões).
Resumidamente: foi um prazer ler este livro, que é agora elemento de consulta indispensável sobre o seu tema. Todos aqueles que se interessam pelas tradições académicas (e especialmente por tunas, claro) devem ficar gratos aos autores, que estão de parabéns!

3 comentários:

  1. Meu Caro João:

    como co-autor, devo dizer-te que estou zangado contigo.

    Zangado, porque te antecipaste na compra do livro, que tinha gosto e fazia questão de te oferecer. Penso que falo pelos quatro, nesta questão.

    Congratulo-me com o facto de teres apreciado a leitura. A tua recensão é duplamente apreciada, pela qualidade da mesma e pelo apreço e estima em que colectivamente te temos pelo trabalho probo e consciencioso que tens desenvolvido na área das tradições académicas.

    A qualidade das imagens foi de facto uma preocupação desde o início.

    Tivemos desde o princípio o objectivo de fazer chegar o resultado da nossa investigação às mãos de quem dela mais necessita: os actuais tunos. Como já fomos jovens (às vezes não parece...) e tunos, conhecemos bem os efeitos da "anemia" que costuma "atacar" as bolsas estudantis... Entre ter uma edição com todos os "ff" e "rr", mas inacessível aos estudantes, e ter uma coisa mais modesta, mas ao alcance de qualquer actual tuno, optámos por esta. Infelizmente, não é possível trabalhar com dois tipos de papel diferentes (papel couché para as fotos, por exemplo). É o melhor que se consegue na relação qualidade/preço. Conhecedor como serás do mercado livreiro, facilmente imaginarás o preço a que uma obra destas seria colocada no mercado por edição convencional - proibitivo.

    Contamos com as críticas e reparos avalizados de todos os sectores de opinião e especialização de conhecimento. As tuas serão, certamente, mais que bem-vindas, avidamente lidas e altamente desejáveis!

    Agradecendo mais uma vez a bondade das tuas palavras, aceita a expressão da nossa admiração pelo teu trabalho, que enriqueceu e continuará a enriquecer a nossa modesta iniciativa.

    Um forte abraço,

    Eduardo

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  2. Caríssimo Eduardo,

    Hás-de perdoar-me. Eu depois "deixo-te" colocares uma assinatura no meu exemplar.

    Compreendo perfeitamente as limitações causadas pelo processo de edição, e compreendo que o adoptassem. Limitei-me a constatar uma dessas limitações. E, sinceramente, nem pensava tanto na qualidade do papel (aparentemente é possível comprar o livro em papel couché, pagando mais, mas não o fiz e não sei como ficam as fotos nesse caso) como no uso de scanners caseiros (em dois casos a culpa até será minha...).

    Ah, e deixa-te dessas "modéstias", que até ficam mal.

    Grande abraço, e mais uma vez parabéns.

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  3. Caro João, um sentido agradecimento pelas palavras que teve a amabilidade de redigir sobre o QVID TUNAE.
    Uma crítica séria, honesta e feita por um "expert".
    Forte abraço e muito obrigado.

    Ver se falamos mais aturadamente disto tudo à mesa. Os portuenses que combinem.

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